A recente publicação da comissão global na The Lancet Diabetes & Endocrinology propõe uma redefinição significativa dos critérios para o diagnóstico da obesidade, visando superar as limitações do tradicional Índice de Massa Corporal (IMC) e promover uma abordagem mais precisa. Esta mudança é respaldada por 58 especialistas internacionais e reconhece a obesidade como uma doença crônica e sistêmica, com implicações diretas na saúde e qualidade de vida dos indivíduos.

 

📏 Superando o IMC: Novos Métodos Diagnósticos

A comissão destaca as limitações do IMC, que não distingue entre massa muscular e gordura corporal, podendo levar a diagnósticos imprecisos. O índice determina apenas se um indivíduo tem excesso de peso, mas não mede sua quantidade de gordura. Uma atleta com músculos, por exemplo, pode ter IMC alto, mas isso não significa que ele seja de fato obeso. 

Como alternativas, são propostos novos critérios:



Essas ferramentas permitem uma avaliação mais precisa da composição corporal e do risco associado.

 

🧬 Novas Categorias Diagnósticas: Obesidade Clínica e Pré-Clínica

A comissão introduz ainda duas categorias distintas:

Obesidade Pré-Clínica: refere-se ao excesso de gordura corporal sem evidências de disfunção orgânica ou limitações nas atividades diárias. Embora não apresente sintomas clínicos, indivíduos nessa categoria têm risco aumentado de desenvolver obesidade clínica e outras doenças crônicas no futuro (como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, certos tipos de câncer e transtornos mentais).

Obesidade Clínica: é caracterizada pelo excesso de gordura corporal associado a sinais e/ou sintomas objetivos de disfunção orgânica ou redução significativa da capacidade de realizar atividades diárias. Indivíduos com obesidade clínica devem ser considerados portadores de uma doença crônica em andamento, necessitando de manejo e tratamentos apropriados.

Critérios Diagnósticos para Obesidade Clínica em Adultos

A comissão estabelece 18 critérios diagnósticos para obesidade clínica em adultos, incluindo:

  1. Sistema Nervoso Central (SNC): perda de visão e/ou cefaleias recorrentes (que possam sugerir hipertensão intracraniana).
  2. Respiratório: falta de ar causada pelos efeitos da obesidade nos pulmões.
  3. Cardiovascular: insuficiência cardíaca induzida pela obesidade (com fração de ejeção preservada ou reduzida); fibrilação atrial; trombose venosa profunda ou embolia pulmonar; hipertensão arterial.
  4. Hepático: esteatose hepática (“gordura no fígado”).
  5. Renal: perda de proteína na urina.
  6. Urinário: incontinência urinária recorrente/crônica.
  7. Reprodutivo (feminino): menstruação irregular, falta de ovulação e síndrome dos ovários policísticos (SOP).
  8. Reprodutivo (masculino): deficiência de testosterona.
  9. Musculoesquelético: dor crônica e severa nos joelhos ou quadris associada à rigidez articular e redução da amplitude de movimento.
  10. Linfático: linfedema nos membros inferiores causando dor crônica e/ou redução da amplitude de movimento.
  11. Limitações das atividades diárias: limitações significativas, ajustadas pela idade, na mobilidade e/ou em outras atividades básicas da vida diária (banho, vestir-se, usar o banheiro, continência e alimentação).
  12. Endócrino: alterações hormonais associadas ao excesso de gordura corporal.
  13. Metabólico: altos níveis de glicose e triglicérides e baixo HDL colesterol.
  14. Psicológico: distúrbios de imagem corporal e autoestima.
  15. Gastrointestinal: doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) associada ao excesso de peso.
  16. Dermatológico: dermatite intertriginosa e outras condições cutâneas relacionadas à obesidade.
  17. Imunológico: inflamação sistêmica de baixo grau associada ao excesso de gordura corporal.
  18. Neurológico: distúrbios do sono, como apneia obstrutiva do sono.

 

🧠 Implicações Clínicas e Sociais

A redefinição proposta visa:

Especialistas brasileiros destacam que essa abordagem representa um avanço significativo na compreensão e manejo da obesidade, alinhando-se aos princípios da medicina personalizada.

 

🌍 Conclusão

A proposta da The Lancet representa uma evolução importante no entendimento da obesidade, movendo-se além do IMC e reconhecendo a complexidade da condição. Ao adotar critérios diagnósticos mais abrangentes e precisos, busca-se oferecer cuidados mais eficazes e equitativos, promovendo a saúde e o bem-estar dos indivíduos afetados.

 

Referências

  1. RUBINO, Francesco et al. Definition and diagnostic criteria of clinical obesity. The Lancet Diabetes & Endocrinology, [S.l.], v. 13, n. 2, p. 123–135, 2025. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/landia/article/PIIS2213-8587(24)00316-4/fulltext.
  2. KUSHNER, Robert F. et al. Redefining obesity: advancing care for better lives. The Lancet Diabetes & Endocrinology, [S.l.], v. 13, n. 2, p. 136–145, 2025. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/landia/article/PIIS2213-8587(25)00004-X/fulltext.
  3. WORLD OBESITY FEDERATION. The Lancet launches new framework for redefining obesity as a chronic disease. 2025. Disponível em: https://www.worldobesity.org/news/the-lancet-launches-new-framework-for-redefining-obesity-as-a-chronic-disease.
  4. GALLAGHER, Ashley. Lancet Commission redefines clinical obesity, moving beyond BMI. Drug Topics, 2025. Disponível em: https://www.drugtopics.com/view/lancet-commission-redefines-clinical-obesity-moving-beyond-bmi.
  5. SAMUELSON, Kristin. Redefining obesity with new global guidelines. Northwestern Now, 2025. Disponível em: https://news.northwestern.edu/stories/2025/01/redefining-obesity-with-new-global-guidelines/.

 

Agende sua Consulta